Nunca tive talento para algemar tristeza. Não sou daquelas que carregam o sofrimento nas costas e se lamento pelo peso que este tem. Desde que amadureci, num inverno tão tempestivo, parei de lamentar qualquer dorzinha que se acumula no peito e faço o que posso pra aliviar. Normalmente, boto alguma daquelas músicas proibidas de tão tristes e me permito chorar a noite inteira, me entregando ao sonho assim que o sono vem, abraçada feito criança naquele travesseiro molhado. Quando o sol me dá bom dia, se infiltrando pelas frestas da cortina, eu esboço um sorriso tímida e peço desculpas pra lua que, outra vez, teve que ouvir todas as minhas lamúrias. E então passa. Eu não permito doer muito tempo, eu não deixo a tristeza impregnar por muito tempo. Quando muita, quando a noite não alivia, quando as músicas não permitem esvaziar tudo que carrego, eu sento e escrevo. Rabisco linhas tortas com idéias absurdas, com sentires sem pé nem cabeça, sem ordem. Nada de começo, meio e fim, só vomito o que machuca e arquivo neste blog cheio de passados, de amores, de saudades, de quereres. Tem dias que volto a ler e recordar aquela noite sem fim. Hoje, por exemplo, revirei a memória pública e tirei o pó de cima de letras esquecidas. Aí eu me pergunto: escrever o que entristece, não é um meio de algemar, trancafiar e eternizar a tristeza?
Texto lido no blog: Palavras e silêncio
2 comentários:
Um abraço e boa semana, Kinha.
Outro, com muito carinho pra vc.
Postar um comentário